sábado, 25 de janeiro de 2014

O balão

Você estava seco,

eu dava continuidade a chuva.. e assim foram seguindo nossos dias, de tormenta e paixão. Nada do que estivesse fora tornava-se perturbação. Este era o desejo, o nosso desejo, de estar em par, por tudo o que se seguia. Eu via o dia nascer, e voce dormia no dia que morria. O encontro era enlace, com fitas brancas e vermelhas por vezes.
A tua voz dizia baixo para eu não compreender as coisas mais belas, enquanto coisas horríveis eram expurgadas como fezes do que não se ama. Ouvia, ouvir era melhor do que ver.
Fechava os olhos, para não me surpreender, e era presa pelos sons. O que era horripilante me capturava numa dança. Ai sim eu fechava olhos e confiava, não havia mais nada além daquilo. Isso era o máximo do que podia alcançar a minha terna abertura de mulher.
Enquanto você na sua sensibilidade branda abraçava-me como se o dia não tivesse tornado noite, e a madrugada caia e sorria para nós.
A poesia dos sentidos vinha pelos olhos da mórbida luz noturna que nos embalava como num sábado a noite. Na sexta éramos capturados pela angústia alheia, não sabíamos responder a tais reflexos e procurávamos dormir apenas, e muitos sonhos, e olhos entre abertos traziam a dúvida do que era sonho, do que noite, e o que seríamos nós, naquele instante de eterno que vivíamos sem dizer adeus.
Deus parecia longe e dentro, dentro num tanto que apenas se escavássemos o centro da terra encontraríamos algo a dizer. Um silêncio profundo, e melhor assim era... Enquanto as palavras não se formavam, as imagens eram híbridas, e os sons claros, sentíamos apenas, o que seria estar vivo e perto, perto de algo, perto de alguém gente que não fosse bicho.
Eu com crenças interminavelmente compridas no ser humano, você a um passo da liberdade
(e se mantia assim, faltando um passo, um passo a completar algo, um passo a dizer coisas que fariam sentido...)
O sentido nunca nos foi próprio, atribuíamos um a todo instante, e era bom, se assim posso dizer, como dizer.... Aquela palavra que fica escondida sempre quando precisamos dela para dizer o que queremos dizer, e ela não se forma, fica por ai, por aqui desintegrada... desgrenhada, não se arruma para o dia que começa. Eu gostava de observar essas palavras/letras ... pois delas surgiam sentenças imensas, ditas com os olhos. Era engraçado, esperávamos da boca, mas vinha dos olhos, do ar que prendíamos no peito por não dizer...
E um instante servia de berço para o sentimento, para sustentar o coração que as vezes crescia em proporção descomunal... Como um balão cheio de ar, de gás que quer nos levar para o céu, sabe lá onde... Eu gostava dessa sensação de sair do chão, por muitas vezes era mais do que uma sensação, era realidade... Esse balão por vezes ia murchando, e quando pisava novamente com os pés, eles quase não lembravam a sensação firme do solo. Era quase parecido com dançar. E nada tinha a ver exatamente com a felicidade.
Nunca nos preocupamos em ser felizes, isto era para os outros, para o consumo, para a realidade compartilhada, para o capital comum.
Nunca fomos um, nem dois... Muitos era demasiado humano. Éramos dança, descompassada muitas vezes, alquimicamente combinados na maioria dos passos.
Seus olhos de.... (o peito enche.)
O corpo seria então mais do que coração descompassado, mais do que uma superfície transpirando, mais ainda do que uma mente compilando a vida, ou o que deveria ser.
Éramos juntos porque assim éramos... e somos, se eu puder falar do presente que é, estar, junto. Ainda sou e tenho você nesse balão que por vezes me leva a ver o que há além do chão gelado.

http://www.youtube.com/watch?v=IdimyyD-ZQk

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