segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O beijo

Os sabores

de um amor que se declara num ato

São para o que se cria, assim como os nós atados numa força magnética de afeto.
O que se vai se desfez, o que se ia já foi e o que será se fez. Passado, futuro presente. Numa dança constante ela se acostumava a sorrir. Um personagem demasiado difuso para seus olhos claros. O que sua natureza respeitava eram os corações alados. Asas bem cuidadosas e brilhantes que resplandeciam a ideia em verbo. Verbo no ato. A coisa em si. A palavra em nó de acordo.
Acordo, diálogo é sempre nó, é embaraço de duas partes. De duas ou mais partes. Num secreto combinar de ohos. Num encostar de mãos suaves. Num desenho que se faz. Ele por ele mesmo, de vida jorrando.

Desamarrou-se, desabotoando-se, desceu as escadas corridas. Escorregando como gostava de fazer na nova infância. Respirou e mirou o jardim. Não exatamente como o via no momento. Mas ainda existiam flores soltas pelo chão. E aquela natureza estonteantemente linda, caída e morta a fez sorrir mais uma vez. Pois a beleza estava para sua percepção assim como néctar para os deuses. E fez-se mel. Ela e mais um ou dois, na verdade somente ela, sua imaginação e talvez ele que de tão forte no seu desejo fez-se homem.

Na sua frente não sabia o que lhe dizer. Nem o que sentir, pensava apenas que aquilo poderia realmente ser apenas uma miragem, uma manifestação festiva do seu querer, e nada poderia ou queria fazer com aquilo. Apenas pensou algo sobre confiança... sobre o que seus olhos poderiam capturar, ou não. E os verbos que não vinham era apenas o silêncio que era gentil e lhe cedia tempo de percepção, no qual suas sensações se floresciam e dançavam. Com o vento que corria ela sentia-se pressionada a dizer algo, a fazer algo, expressar algo. Enquanto sua face continuava nua e branca, como um dia cinzento sem mover uma pálpebra apenas, seus pensamentos se aceleravam na velocidade da luz. Ela mirava-o sem saber o que de fato estava exprimindo e menos a saber ainda sobre o que o pobre hombre estava a pensar.
Sua respiração deveria estar como uma valsa totalmente descompassada e valorosa. E
Ele a mirava como uma miragem, como uma imagem qualquer que poderia desaparecer. Mas não poderia desaparecer sem falar algo, sem emitir um sinal, um arquear de sombrancelhas. Caso não se mova em alguns segundos ele irá fazer algo. Ela poderia sumir, porém precisava apenas sentir seu cheiro, seu sabor, seu calor, ou escutar sua voz doce? Doce? Não sabia mais, ela poderia, depois de vagões de segundos, dar um grito tenebroso, ou falar como uma gralha atrasada.

Ficaram, permaneceram assim... O que não era perceptível a olho nu, porém os dois estavam nus. Era que existia algo, algo realmente anterior a todos aqueles pensamentos intermináveis, que os fazia dançar. Uma dança desnuda de curiosidade afetuosa. Por vezes lembrava uma enroscamento de corpos, sem enroscar. Quase como se os corpos imóveis soltassem o espírito e esses sim corações alados realizavam algo que não se pode descrever. Sim não se é possível em palavras caber o que um ou mais corações alados intencionam em fazer. Ou fazem, ou falam, ou ...

Beijo