sábado, 25 de maio de 2019


CAMBALHOTA


No silêncio das maritacas tagarelas eu penso, escrevo, me esquento, descanso. Escrevo à mão, no diário, aquela coisa antiga mesmo. Tomo um chá e penso. Adoro pensar, mesmo quando pensar não me adora e me atordoa bastante. 

Me viro pra dentro, me desviro, me reviro, numa cambalhota constante, num misto de dentro e fora, como se procurando alguma coisa, mas sei que nada é. É só o tempo que precisa passar para as pessoas porque pra mim ele já passou. Me passou. Eu passei. Por isso, fico. Aqui, assim, me aqueço nesse estranho verão que faz frio. A novidade é que nessa solitude eu não danço, meu corpo imóvel deseja realmente parado ficar. E fico, fico, fico, escuto, escrevo, danço, na minha memória, de quando o corpo ainda acompanhava os pensamentos. Me pediram para freiar, eu obedeci, mas ninguém escutou. Fiquei de louca, como de costume, nem liguei. Assim, menos louca eu fico. 

Fico esperando as letras formarem parágrafos, os parágrafos formarem linhas, as linhas minha voz. Espero essa voz. Que ainda pensa como vai soar nos ouvidos, se como um tiro, como um soco ou como veludo. É necessário este reformular. Todos os sistemas estão sendo atualizados automaticamente, e o meu ainda é manual. Prefiro para não ser pega de surpresa. Não gosto de surpresas e gritos. Só do escândalo das maritacas; ô bicha alegre. 

Me reformulo, me mudo, eu muda, eu fico muda e me mudo. Português brasileiro é lindo mesmo. Somos muito mais que saudade, somos a poesia da humanidade. Mesmo com horror e fome, violência e morte. Eu tenho morrido bastante, é o que tenho conseguido fazer. Enquanto a vida brota, eu vou morrendo. Para que mulher eu possa viver, e ter orgulho daquelas que de vingança se fazem ver, se fazem ouvir. A revolução está.